Ao buscar o termo “infusão” no dicionário, uma das definições se revela como o processo de mergulhar em água fervente qualquer substância para extrair dela princípios medicamentosos. Rael não poderia ter sido mais certeiro ao escolher o nome do seu novo EP: “Capim-Cidreira (Infusão)”.
No trabalho, o cantor e compositor soma músicas do seu disco mais recente, “Capim-Cidreira” (2019), a faixas da sua carreira que têm a positividade como fio condutor, além de apresentar a música inédita “Rei do Luau”, uma parceria do rapper com a cantora IZA.
O processo de infusão do repertório resultou em versões acústicas e com novas texturas, ressaltando as mensagens de positividade e esperança. E o formato mais intimista não foi escolhido por acaso. A afinidade de Rael com o violão o diferencia dos seus companheiros do rap, lhe rendendo não apenas singularidade, mas também destacando o artista como um dos nomes mais versáteis da sua geração. Agora, com “Capim-Cidreira (Infusão)”, ele tem a oportunidade de – pela primeira vez – dedicar um projeto inteiro a este formato. Lançado pela Laboratório Fantasma, o EP, que já está disponível nos aplicativos de streaming(ouça aqui), chega como um instrumento que pretende – por meio da música – ajudar a superar os desafios impostos pela pandemia. Na bula, diz que “Capim-Cidreira (Infusão)” é indicado para relaxar, passar o tempo, aliviar o estresse e distrair a mente.
Quando o período de quarentena começou, Rael se viu impossibilitado de rodar o país com o show do disco “Capim-Cidreira”. Como ele tem um estúdio em casa, pensou em produzir algo novo – até mesmo como um meio de se manter em equilíbrio no momento em que as suas rotineiras corridas no Parque do Ibirapuera foram suspensas (ele estava se preparando para correr a meia maratona de São Paulo). Mas uma movimentação entre os seus fãs chamou a atenção dele. “Percebi que as pessoas começaram a compartilhar algumas músicas antigas, como ‘Semana’ e ‘Tudo Vai Passar’. Músicas com letras que trazem algum tipo de conforto”, lembra o artista. Foi então que ele decidiu fazer um EP com versões “no ritmo do desacelero”. A produção ficou por conta de Julio Fejuca.
Canções do álbum “Ainda Bem Que Eu Segui As Batidas do Meu Coração” (2013), “Semana” e “Tudo Vai Passar” entraram para o EP “Capim-Cidreira (Infusão) ao lado de faixas do trabalho mais recente de Rael. São elas: “Só Ficou o Cheiro” (com a presença da banda pop Melim), “Beijo B” e “Flor de Aruanda“. Esta última, inclusive, garantiu espaço na tracklist por escolha do público, após uma ação digital feita por Rael. A troca entre ele e os fãs se intensificou bastante ao longo da quarentena – chegou a render um clipe colaborativo de “Beijo B” feito à distância (com vídeos enviados pelo público e por Thiaguinho, que participou na gravação original da música).
Ainda ganhando espaço no Brasil, mas já nos holofotes do cenário internacional, o afrofusion tem sido a principal fonte de pesquisa e de inspiração de Rael. Trata-se da produção musical contemporânea sendo feita nos países do oeste do continente africano. “Eu sempre misturei o rap com outros gêneros, nunca quis me aprisionar a nomenclaturas pré-estabelecidas pelo mercado”, explica o artista. “Mas acredito que é aí onde enxergo a minha música se encaixar com maior naturalidade”, pensa. A nova versão de “Beijo B” é um bom exemplo dessa imersão na sonoridade vinda da África.
Já a canção inédita em parceria com a IZA é fruto de uma madrugada produtiva. Rael iniciou “Rei do Luau” e, quando faltava só um trecho para terminar a letra, recebeu uma mensagem da cantora no Whatsapp . Na mesma hora, ele a convidou para participar. IZA escreveu a sua parte e cada um gravou a voz da própria casa. “A música vinha em uma pegada bem popular, brasileira e com swing. A IZA acrescentou uma linha R&B. Deu um brilho, cantando MUITO”, fala Rael. “Ela é uma das artistas que eu mais admiro, vem quebrando paradigmas e representa a voz de muitas mulheres, sobretudo mulheres negras que têm pouco espaço na mídia. Foi foda fazer esse som juntos. Ela quebrou tudo”, completa.
A faixa “Beijo B“” terá ainda uma ação global no jogo Avakin Life, da desenvolvedora inglesa Lockwood Publishing, disponível para Android e iOS. Só no Brasil, principal mercado do jogo, a plataforma tem mais de 2 milhões de jogadores ativos. Entre 10 e 14 de julho, Rael vai ganhar o seu avatar e os fãs vão poder se direcionar até o local do show digital para fazer parte desse novo lançamento. “A tecnologia tem o seu lado bom, que é o de aproximar as pessoas. Acho legal poder mostrar o meu novo trabalho dentro de um jogo, levando entretenimento e diversão para as pessoas. Com a pandemia do novo coronavírus, acredito que os mercados da música e dos games vão se aproximar ainda mais”, avalia Rael.
“É algo que veio pra ficar, não podemos lutar contra, mas, sim, pensar em como se manter verdadeiro e não soar artificial nesse meio. Como eu curto essas paradas, vai ser divertido e espero seja algo que faça o dia das pessoas melhor, porque é isso que busco com a minha música”, finaliza.