“Para não dizer que não falei de Flores (Caminhando)” foi lançada em 1968 por Geraldo Vandré. Naquele ano, a música ficou em segundo lugar no Festival da Canção e logo depois virou hino contra a ditadura militar. Em 2024, a faixa ganha nova versão na voz de Rappin Hood, com produção de Thiago Barromeo, lançado pelo selo pernambucano Estelita. Inspirado pela letra e em busca de batidas do reggae Nyabinghi, som feito nas celebrações de datas importantes da comunidade Rastafari na Jamaica, a dupla faz um encontro do reggae com o rap.
Escute “Pra não dizer que não falei de Flores (Caminhando)” já disponível em todas as plataformas de streaming.
“Minha inspiração veio muito da letra do Geraldo. Eu e meu parceiro nesta canção, o Barromeo, estávamos pesquisando batidas do reggae e caímos em batidas do Nyabinghi. Queríamos dar uma visitada nas raízes do rap e reggae, inclusive porque no começo dos movimentos, nós tínhamos mais músicas de protesto. E ainda com a benção do mestre. Isso mostra que estamos no caminho certo e mostra que independente da grana que se ganha fazendo músicas de protesto, músicas rebeldes, músicas de mensagem, rap de mensagem, há um caminho também. Há quem goste dessas músicas, há quem proteste, ainda há! Este é o nosso objetivo, fazer rap de mensagem independente da situação que estamos vivendo. Eu acho que a mensagem é o mais importante”, comenta Rappin Hood.
E não só a benção do mestre veio, como Geraldo Vandré faz a introdução da música junto ao rapper. Recluso, Vandré que hoje tem 88 anos fez sua última apresentação em 2018, quando recebeu uma homenagem no Festival Aruanda em João Pessoa por seu trabalho na trilha sonora do filme “A Hora e a Vez de Augusto Matraga” (1985). Mas para Rappin Hood o acesso foi diferente.
“O pessoal fala isso mesmo, que ele é recluso. Porém comigo não foi assim. Tive o prazer de ter feito uma versão de ‘Disparada’ ao lado do Jairzão [música lançada em 2005 no disco “Sujeito Homem 2″ com o grande Jair Rodrigues]. Ele autorizou e fizemos. De repente ele falou que queria participar de alguma forma e fez aquela fala do começo da música. Fiquei muito feliz porque tenho muito respeito pelo trabalho dele. Vandré é conhecido pelas músicas de protesto, né? Eu não esperava que isso acontecesse. É uma honra gravar essa música”, revela Rappin Hood.
Com certeza uma época do trabalho de Vandré que vai em total consonância com o do rapper, apresentador e ativista, Rappin Hood, hoje apresentador do programa RapDuBom, idealizado por ele, que vai ao ar pela rádio Street. Tanto que na parte de rima, ele canta um “Fora B.”, pois a canção foi gravada anos atrás. Agora, refletindo sobre o novo momento ele vê com uma melhora na situação:
“Estamos em um momento diferente, mas ainda vivemos uma brisa do que aconteceu naqueles 4 anos. A atmosfera mudou muito. Pelo menos tirou aquela enforcadeira que estava no nosso pescoço. Naquela época estava tudo muito extremado. Muito violento. Não que agora esteja tudo acertado, ainda temos muita coisa para consertar”.