“Cada track nova é um reinício”, canta Rashid em “Não É Desenho”, inédita que lança neste mês de janeiro e com a qual dá continuidade a seus singles-clipes estilosos lançados desde o disco “Crise”. Com mais essa no repertório, o rapper apresenta algo mais urbano e pesado, em contraste com a última, “Interior”, lançada em dezembro, em que revisita o boombap e temas interioranos; agora, a base mais moderna, entre o trap e o grime, dá o grave do som e a tônica do clipe, uma animação que foi buscar em filmes e HQs as referências para assumir, segundo seus produtores, uma identidade underground.
Rashid se põe a falar verdades enquanto traz a influência dos heróis de quadrinhos e desenhos para a rima, desta vez com o propósito de ressaltar quais superpoderes também temos, independente de usar capa, como Marielle Franco, lembrada por ele em um dos versos. O instrumental pede a faceta mais real do rap, da lírica, da maneira como se fala sobre a rua, por isso, no flow, o MC vai e vem nos contratempos da batida para encaixar frases extensas e contar como as ideias rimam tanto quanto as palavras quando diz, entre outros, “Vim com tanta garra que eles já ‘tão desconfiando que botaram adamantium nos meus ossos” e “Realidade custa. Pra noiz é duas vez mais pesada, por isso assusta”.
O clipe é a primeira animação em sua videografia e foi feito com a técnica conhecida como rotoscopia, em que desenha-se por cima de cenas gravadas para depois animar quadro a quadro. A escolha das (poucas) cores e o estilo lembram a sujeira de Sin City, um trato visual que veio acrescentar mais uma linguagem, o design gráfico, ao vasto leque de experimentações do artista. A produção visual é assinada pelo estúdio Miopia – também responsável pela arte no primeiro livro de Rashid, Ideias que rimam mais que palavras, de 2018 – e pela produtora audiovisual Giramundo Filmes.
Sobre o lançamento, o rapper afirma que este é um dos trabalhos mais legais que já fez em sua carreira, tanto por explorar algo ainda inédito quanto por trazer para a música um pouco da cultura geek que acompanha de perto. “‘Não É Desenho’ é um paralelo entre nossa realidade e aquilo que gostaríamos que ela fosse, criando uma ponte entre os mundos”, diz ele de maneira mais poética para descrever, na verdade, o choque de realidades que há nas entrelinhas da vida real.