sábado, novembro 23, 2024

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Reflexões obscuras: Explorando o “Disco Inferno” de Dam Caseiro e Saggaz

Por Mari Magalhães

Reflexões críticas e metáforas um tanto sombrias permeiam o “Disco Inferno, Vol 1”, lançados recentemente pelos rappers goianos Saggaz e Dam Caseiro. O EP, que começou a ser trabalhado durante a pandemia, saiu das profundezas da mente de dois gigantes do rap goiano somente agora, com uma dose generosa de Boombap. Como eu gosto bastante de lendas urbanas, vou falar deste trampo de trás pra frente.

O EP “Disco Inferno, Vol 1” tem 5 faixas. A faixa 5 – “Apocalypse Now” faz uma revelação sobre a faceta fascista da sociedade goianiense. Os rappers aproveitam o tema, ironizando a história cristã, para revelar, através de metáforas, como driblam os desafios de sobreviver neste espaço-tempo. E o refrão reforça essa crítica cantando “Meu mano, não vai ser fácil não, É de hoje que vocês acredi..Tão vindo me chamar o que são… Essas caras que não entendem o que eu di… Goiania Apocalipse Now Agora vejo o fim do início. Os mesmos que promete é uns cuzão, que me impressiona ainda tá vivo”.

O som traz um elemento sonoro importante com a participação do rapper VH, O Escrivão, o dono do flow. A título de curiosidade, essa faixa é um Remix. A versão original de Apocalypse Now está no EP “Morbo (Saggaz, 2020)”.

E por falar em participação, outro fiel parceiro neste trampo é do rapper Yelow na faixa 4 – “Candelabro”. A lírica, que segue à espreita na sombra do candelabro, traz certa luz a fraquezas e fortalezas dos autores. E, ao se exporem, imersos no universo undergorund, tornaram-se sujeitos cientes de julgamentos. “Erga a mão, aponte o dedo. Só não me pegue pra cristo… Viu quem de nós era, o que sentiu?”, diz o som.

Ainda trazendo referências da mitologia cristã, a faixa 3 – “Devil”, que em tradução significa “Diabo”, não se trata de uma obra anticristo. Saggaz e Dam Caseiro mantêm a temática de uma sociedade dominada pelo mal, que eles ironicamente chamam de “Devil Paradise”, fazendo uma referência ao rapper Coolio (de “Gangsta Paradise”). E, assim como as músicas anteriores, cantam sobre a hipocrisia social cristã, sustentados por muita, mas muita metáfora. Para reforçar essa ideia, e antes que a música termine, uma declaração do Mano Brown refletindo sobre o disco “Sobrevivendo no Inferno”, dos Racionais, é sampleada.

Já na faixa 2 – Meio Beck”, traz dois rappers sonhando com dias melhores. Saggaz já introduz o som dizendo que os dois estão sonhando com os “Maybach”, carros de luxo. Mas enquanto esse dia de glória não vem, estão vivendo a brisa e economizando inclusive no beck. Vale ressaltar que neste som, Saggaz e Dam Caseiro rimam em um Drumless, tipo de instrumental sem a programação de bateria, apenas recortes de Sample, técnica em que os dois artistas foram pioneiros no estilo em Goiânia.

E pra finalizar essa dark análise of the disco, “Penumbra”, a primeira faixa da obra, foi a única a ganhar um videoclipe. Talvez também seja essa a track que mais elucida o EP. O disco leva no nome o termo “Volume 1” pois deixa em aberto uma possível continuação, com novos capítulos de neuroses, problemas e pensamentos intrusivos dos rappers, bem conceituado pra quem não dispensa essa estética e conceitos do homem e suas sombras.

SOBRE ELES

Dam Caseiro é atuante na cultura Hip Hop desde 2012, começou como DJ NAD, integrando o grupo K’MENT, onde também realizou sua primeira apresentação aos 16 anos. Uma das maiores características são suas composições, cuja a escrita é caracterizada pela forma que expressa seu ‘eu lírico’, através de fábulas e storytellings de um jeito metafórico e atemático, fazendo com que suas músicas se tornem únicas dentro do estilo que compõe. Ao lado de VH, O Escrivão, formam o duo CASEIRO, com vários trabalhos sonoros e audiovisuais lançados. Dam Caseiro também é membro do coletivo Wu-Kazulo, ao lado de Saggaz e de outros rappers de Goiânia.

Saggaz deu seus primeiros passos no Hip Hop em 2015, através do Graffiti. No mesmo ano, começou a produzir Instrumentais de Rap e gravar as suas primeiras demos. Em 2016, Saggaz montou o seu Home Studio e nesse investimento, produziu diversas músicas e álbuns de rap. Inclusive, o nome Saggaz surgiu pelo fato de sempre ter muita facilidade e agilidade para produzir os instrumentais. O rapper e produtor musical traz em suas musicas letras bem elaboradas, beats sujos e bastante técnica, utilizando bastante trocadilhos e Punch Lines. No meio da produção musical, já somam cerca de 200 músicas que Saggaz assinou as batidas, sendo algumas em trabalhos de artistas renomados do Rap Nacional como Atentado Napalm, Mano Fler, Nocivo Shomon, tendo também uma das musicas que produziu fazendo parte do quadro Rap Box do estúdio Casa 1.

Um cara importante a ser citado aqui é o diretor de imagem deste trabalho: Abner Santos. O fotógrafo goiano é parceiro de longa data de Dam e Saggaz e para este EP, ele trouxe fortes referências ao estilo samurai misturado com cyberpunk. As imagens foram registradas pelos becos do centro da capital.

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