Quando surgiu nos anos 90, com o single “Criminosos da comunicação”, o grupo Verbo Pesado causou reações de amor e ódio no cenário. Num período em que o axé dominava as rádios e canais de TV, as metralhadoras giratórias de Nill (MRN), W Yo (RPW) e Kid Nice (Sistema Negro) atingiram o que eles interpretaram como mediocridade e lixo fonográfico.
A postura anti-mídia marcou a trajetória do Verbo Pesado, seu slogan “a mídia aqui não fez ninguém de refém”, não apenas estampava camisetas que traziam o logo do grupo, mas ficou na mente de uma geração do hip hop.
Em meio aos altos e baixos do rap brasileiro, foram três trampos lançados pelo grupo: “Criminosos da Comunicação” (1998), “O Império Contra Ataca” (2000) e “Sem Prostituição de Ideias” (2002).
O novo disco do Verbo Pesado (VP), sairá por conta do apoio e colaboração dos fãs. Foram várias as propostas feitas para certas gravadoras que não concordam com a ideologia do Verbo Pesado.
Por conta disso o Verbo Pesado optou pelo financiamento coletivo, que terá uma ação direta no novo CD do grupo. A internet deu voz a muitas figuras das sombras que rastejavam por aí que automaticamente reativaram a voz e vez para que o Verbo Pesado retornasse, um grupo de grande expressão no cenário hip hop brasileiro.
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O ZonaSuburbana falou com W Yo e Nill para saber um pouco mais dessa parada. Confira mais uma entrevista exclusiva.
ZS: Quais os principais motivos para a volta do Verbo Pesado?
W Yo: Na verdade, o principal motivo foi: o jeito que o rap está, ainda mais em São Paulo, que era considerado a base – vamos dizer assim – do rap brasileiro. O rap está meio bagunçado, uma terra de ninguém, todo mundo hoje é rapper.
Nill: Pra mim, o motivo principal da volta foi a persistência e a vontade do W Yo de querer ver o time em ação de novo, mesmo porque estou morando fora de São Paulo. Ele falou: vamos voltar, por a bola no chão, acho que a gente tem que por pra frente, o Verbo Pesado foi a gente que criou. Da minha parte, o real motivo foi ver ele fazer toda a correria pra ver tudo acontecer.
ZS: Vocês mantiveram contato durante esses ano?
Nill: Então, contato a gente não tinha muito não. Eu me mudei pra Sergipe, foram anos sem se ver, mas estava em pensamento a ideia do Verbo Pesado, não tinha nem como esquecer, foi um filho que a gente criou quando o rap estava meio que estagnado. A gente veio com a proposta de meter o pé na porta do cenário. O contato mesmo veio com a pré-produção do disco, que começou já faz uns seis meses, mas na mente sempre teve contato, mesmo comigo lá e os caras aqui.
ZS: Cada um tem seus corres e responsabilidades, como que é fazer um rap hoje com essa bagagem de preocupações que antes não tinham?
W Yo: Esse tempo que se teve, mais da gente separado, depois do último álbum, que foi e 2002, Sem Prostituição de Ideias, foram 14 anos, né? Foi só em 2016 que a gente voltou a se falar, voltou a se ver pra trabalhar nesse álbum novo. Nesses 14 anos pegamos mais experiências de como lidar com as responsabilidades e os compromissos. Isso está sendo refletido nesse trabalho.
Nill: Bagagem te deixa mais maduro e mais esperto com a trairagem do meio. Preocupação? Preocupação sempre vai ter, pois a música é uma coisa louca e você tem que ser mais louco que ela duas vezes. Quando a arte não visa só o dinheiro, a preocupação é quatro vezes maior. Também acho que tudo vem o momento, se o astral permitiu…Acho que nada é por acaso pra gente que já tem essa bagagem, uns vinte anos, outros 25 anos, fica até mais fácil. Quando você fica mais maduro, fica mais coerente.
ZS: Acompanham a cena atual?
W Yo: Não me agrada muito a cena atual do rap, mas acompanho bastante coisa. Cães de Caça, K’dáver, Issa Paz, Pepo Nunes – moleque embaçado, Wu Clan Negril, Wufólogos, toda essa rapazeada que está fazendo um rap sujo acaba me chamando a atenção.
Nill: Na cena atual, o Liniker, tive o prazer de fazer uma entrevista com ele esses dias atrás, um cara de atitude e que faz uma revolução na música em nível de comportamento, quebrando barreiras. As pessoas falam tanto que não têm preconceito que são verdadeiras…e o cara mostrou que pode se fazer música com verdade. Gosto da Aláfia, banda que é bacana e atual, mas tem muita coisa dos anos 70 e 80 com aquele lance de terreiro. Acho muito original, tenho acompanhado os shows. Tem um cara aí da cena atual, com uma música que eu me identifiquei bastante, até pelo texto que a mãe dele recita no final, tem muito a ver comigo, o Rashid com a música “Gratidão”, achei verdades na escrita. E curto muito música instrumental.
ZS: Vieram pra seguir o fluxo ou vão tentar quebrar regras como fizeram nos 90?
Nill: A gente sempre foi na contramão do fluxo, né? Seguir o fluxo agora, nem rola. O que é o fluxo musical? Cada momento, cada minuto, na minha cabeça, muda várias rimas, várias vontades de fazer música. Quebrar as regras os anos 90, não, elas já foram quebradas. Quando a gente lançou “Criminosos da comunicação” já foi uma regra altamente quebrada. A gente consegue se manter só com o logo, que já é quebra de barreiras, você não precisa fazer caras e bocas, né?
É legal fazer música do jeito que a gente quer, tanto que a gente ficou jogando pra lá e pra cá e o disco vai sair não sei por onde, mas vai sair. A gente que se permitir sempre, isso já quebrar o fluxo e as regras pra mim.
W Yo: Como o Nill acabou respondendo, ratifico que a quebra de barreiras nos anos 90 pode-se ver no nosso slogam: “a mídia aqui não fez ninguém de refém”, isso foi e sempre será uma quebra de regras dentro da proposta do Verbo Pesado no rap nacional.
ZS: A mídia e a música comercial sempre foram alvos dos ataques do VP, as coisas estão bem diferentes na cena rap hoje em dia, quais serão os alvos do grupo agora?
W Yo: Não está nada diferente hoje, sempre teve aqueles que se entregam ou que tentam pegar um atalho desde os anos 90 até os dias de hoje, porque está bem mais fácil. Hoje você vai na Santa Efigênia, compra um programa e vira produtor, um moleque tem um programa de áudio e de repente vira MC, vira rapper, como queira chamar.
Eu não diria o ataque. O foco do verbo pesado é justamente minimizar os mentirosos. Quem são os mentirosos? A maior parte do público sabe, mesmo assim, alguns ficam quietos. A minoria do público não sabe, só que é muito louco, porque a minoria é que consome mais. O foco do VP nesse álbum é continuar alertando pessoas que formam opinião, que acreditam na boa música e na boa cultura televisiva para que não continuem sofrendo com as informações que circulam via rádio ou televisão.
Nill: Nunca teve alvo, teve vontade de citar certas expressões erradas dentro do cenário musical. Essas expressões são de pessoas que não formam nada musicalmente, querem dinheiro através de uma arte mal concebida. O VP não é melhor que ninguém, cada um sabe onde sua letra pode bater, entendeu? Não tem alvo, a gente tem convicção de que nós mesmos podemos formar nossos alvos passando boa informação, boa cultura para pessoas que estão querendo ouvir isso e não ser massa de manobra intelectual, entendeu?
O mundo mudou, as cabeças mudaram. Acho que ninguém mais quer ouvir lorota, chega! A nossa ideia é reunir essas três cabeças pensantes que formam opinião para contribuição para boa música brasileira. A gente faz rap, né? Sem querer ser melhor que ninguém em nada.
ZS: Onde foi produzido o disco? Quais as participações?
Nill: Em nível de produção, foram vários lugares, só que a gente se deslocou para o interior, a gente sentiu mais firmeza num estúdio de um chapa que é amigo do W Yo. O astral permitiu e a gente rumou ao interior para se livrar das ressacas de São Paulo. Sobre as participações é muito mistério, elas vão pintando, cada dia pinta uma ideia. Vai ter gente legal e o microfone vai estar recheado de boas ideias.
W Yo: A gente preferiu ir pra zona rural, para um sítio. Graças a Deus estão pintando várias participações. A gente está pegando essas participações para depois ver quais que vão rolar, quais que têm mais a ver com a parada, são vários estilos diferentes. É isso, valeu mesmo a atenção. Tamo junto!