Na semana passada, Mano Brown disse que a grande novidade virá das mulheres, mas essa novidade está sendo criada faz muito tempo. Desafiando o machismo, a violência contra a mulher e as normas de gênero, rappers de diferentes partes do planeta mandam suas rimas em meio ao plano de desigualdade criado durante séculos e reproduzido no hip hop.
Como disse a rapper chilena Ana Tijoux, “Há muitas mulheres de diferentes lugares que estão se empoderando”. São formas, beats e estéticas moldadas pela voz e pela vivência feminina que enriquecem a cena.
PRETA BÊA
Negra periférica e cheia de atitude chega junto com o single “Alvo fácil”, trampo que vai entrar no EP de Preta Bêa, que tem previsão de lançamento para este ano. “O EP vai chegar com assuntos que abordam o cotidiano de quem vive nas margens da sociedade, mas não com pedantismo ou conhecimento apenas teórico. É ideia de quem vive dentro deste contexto. Ou seja, a realidade da Preta Bêa”, comentou a MC durante bate-papo com o ZonaSuburbana.
SAMMUS
Conquistando espaço na cena alternativa dos EUA, Sammus, produtora, professora e MC de Ithaca, Colorado, fala sobre a caminhada das mulheres negras numa sociedade racista, cheia de pressões e exigências para que sejam fortes. “Empoderamento é sobre complexidade. É mostrar maneiras diferentes de ser”, diz Sammus sobre os múltiplos problemas e enfrentamentos que estão em sua música.
PRI LIPPI
Estupro é o tema do videoclipe “Doce Vingança”, a MC paulista Pri Lippi. Interpretando a mulher que se vinga de seu agressor, Lippi lançou um trabalho com uma série de informações e estatísticas sobre o crime e a cultura do estupro. “As minhas letras sempre abordam temas do meu dia a dia e de problemas sociais que eu vejo, o que acaba abordando muitos dramas que nós mulheres enfrentamos. Como na letra de mãe sem vida, a letra é feita em cima de uma mulher que perdeu o filho em um tiroteio e como ela se sente com isso. Eu pretendo sempre manter minhas letras nessa mesma linha”, diz a artista ao site Bocada Forte.
DALYA RAMADAN
“Eu uso o rap como forma de expressão. Pego o que está dentro de mim e coloco nas palavras. Falo sobre problemas e questões que enfrento. Tento enviar uma mensagem ao mundo”, afirma a palestina Dalya Ramadan, em reportagem do site KQED. A rapper de 15 anos integra a comunidade Shoruq, organização que desenvolve suas atividades no campo de refugiados de Dheisheh, na Cijordânia.
REBECA LANE
Rebeca Lane escreve seus raps sobre a violência contra a mulher na Cidade da Guatemala, capital de um dos países com maior taxa de violência contra as mulheres no mundo: quase 10.000 mulheres foram mortas desde 2000. Ao colocar sua poesia nas batidas do rap, Lane fala de uma realidade que conhece bem. Num passado recente, ela manteve um relacionamento com um homem que a agredia fisicamente e psicologicamente. Foi a experiência com um grupo de teatro constituído por mulheres que a ajudou a retomar sua vida.
“Quando você começa a falar e tomar consciência de que o que você está vivendo não está bem, que tudo aquilo que viveu não deveria ter acontecido, você começa a se curar”, disse a MC, socióloga, anarquista e poeta em reportagem do site colombiano El Espectador.
OURO D’MINA
As minas do grupo Ouro D’Mina também encontraram apoio em uma organização feita por mulheres: a Frente Feminina do Hip Hop de Bauru. As MCs reconhecem a mudança que o hip hop causou em suas vidas. “É um pouco dos conselhos da minha mãe, um pouco dos conselhos das meninas Frente com um pouco do que eu vivo lá na minha quebrada […] A gente está lutando contra o machismo e o preconceito”, comenta Yasmin Vieira durante entrevista na TV Unesp.