Sonoramente o último álbum de Kendrick Lamar é arriscado, incorporando elementos do funkey, inovando no estilo com poesia falada e um free-jazz (Lamar disse que ele estava escutando a muito Miles Davis e Parliament enquanto o fazia), o engenheiro de som de Kendrick, Derek “MixedByAli” Ali, disse que o rapper falava em estado de espírito: ‘Eu quero soar estranho’, ou ‘Eu quero que soe como se você tivesse sendo dirigido ao passado’, ou ele falava em cores: ‘Faça isso soar roxo. Faça isso soar verde claro’.
“To Pimp A Butterfly” é o terceiro álbum do rapper e mais que os dois anteriores este é um dos grandes clássicos do RAP, tendo um movimento totalmente reverso ao comum de falar sobre drogas, mulheres e dinheiro, usando sempre dos mesmos produtores e de basicamente a mesma batida.
Começando pela capa, onde temos uma colagem em bronze de jovens homens se divertindo sobre o corpo morto de Ronald Reagan, nas mãos estes jovens seguram pilhas de dinheiro e bebendo ‘forties’ (cerveja barata estadunidense) tendo como fundo a casa branca.
Para produzir o disco o músico chamou Pharrell, Taz Arnold, Boi-1da, Terrace Martin, Knxwledge e Flying Lotus para modernizar o álbum. Participações de Parliament’s George Clinton, Thundercat, Bilal, Snoop Dogg, Robert Glasper, e um membro do Isley Brothers, Ronald Isley. Nomes renomados do RAP e do jazz, para implementar seu novo estilo de música apresentado no álbum e criar música própria – já que sabia que o disco iria vender devido ao que já alcançou – ele propôs algo que mostrasse seu estilo e fosse totalmente idealizado por ele para ser boa música e não música para vender.
No final de algumas músicas ele lê poemas ao rapper falecido Tupac Shakur, uma referência na música e em West Coast, de onde o músico que canta também é.
Em suas músicas ele usa de metáforas para explorar o tema proposto de revolta contra a situação da sua quebrada, dos negros que não conseguiram lidar com o sucesso e pobres, dando maior complexidade e qualidade às suas rimas.
Na faixa ‘For Free’, Kendrick fala da relação sexual entre um homem e uma mulher, criando uma metáfora da relação das gravadoras com os rappers, principalmente com ele mesmo. Tem um verso que deixa explicito como o cantor vê a situação: “Oh America you bad bitch, I picked the cotton that made you rich”, onde faz uma referência aos tempos de escravidão onde os escravos pegavam algodão e faziam a América rica, pelo trabalho não remunerado. A mensagem clara dessa música é que se a indústria quiser se envolver com o Kendrick é melhor ela remunera-lo bem, como ele merece.
Outra faixa grandiosa no disco é a ‘U’, onde ele se vê deprimido gritando no quarto, ele rima falando sobre o episódio em que ele teve um amigo baleado, e ao invés de ir visitar o amigo, que acabou falecendo, apenas o que fez foi uma conversa pelo facetime (transmissão por vídeo da Apple), falando que nem mesmo Deus o perdoaria por isso. Somente essa faixa e essa historia já seria o suficiente para levar um homem a loucura.
Na sequência vem a música ‘Alright’, a qual ele fala que mesmo com os maiores problemas, ele conseguirá seguir em frente, acreditando em Deus, ou mesmo em algo que te faça continuar, fazendo uma sequencia da música anterior.
Em ‘King Kunta’ ele se nomeia como o escravo que teve suas pernas cortadas, que era uma prática para quando o escravo tentava fugir diversas vezes, e ele faz uma analogia com ele mesmo, com uma letra extremamente metafórica ele questiona as pessoas que o acompanha agora apenas quando ele está ‘running the game’, – que é uma expressão para quando se está fazendo sucesso – fica perguntando onde estavam essas pessoas enquanto ele apenas andava. Em outros versos nesta mesma música ele deixa claro que esta fazendo o disco pela música, que se for para puxar o saco de algum produtor para ser milionário ele prefere virar um mendigo “if I got a Brown nose for some gold, I rather be a bump than a motherfucker bollar”.
Outro destaque do disco é a ‘The Blacker the Berry’, onde ele é mais direto contra o seu país, onde ele canta contra o governo vigente na época em que ele nasceu, na época de Ronald Reagan. Época específica onde o crack dominou as ruas de sua quebrada, e isso foi facilitado pela CIA, com artigos de jornais confirmando essa ação a favor da criminalidade da instituição na época.
Para fechar Kendrick lê o poema completo para o falecido Tupac Shakur, e entrevista o mesmo, usando trechos de entrevistas antigas de Tupac e dialogando , falando de todos os problemas que ele comentou em todo o álbum e entrando em uma espécie de acordo de que o caminho que ele seguiu seria o mesmo caminho que o ícone do rap teria seguido.
O álbum foi bem aceito pelo público e pela crítica, batendo o recorde de downloads no Spotify logo na primeira semana pós lançamento, ultrapassando o número de downloads do disco de Drake, que era considerado o rapper que mais estava fazendo sucesso na cena. E teve a honra de Dr. Dre dando sua opinião, que definiu perfeitamente o disco: “Eu achei ele divertido, mas não perdendo a sofisticação que eu aprecio na música, se você escuta na festa, ela te anima, porque tem ritmo e é divertida, mas ela tem a força de um conteúdo que tinha o Hip Hop e Kendrick está nos trazendo de volta a isso.”
A habilidade de rima do rapper fica clara neste álbum mais do que nunca, ele usa suas rima de um jeito que combina com um ritmo totalmente clássico e musicalmente rebuscado, fazendo algo inigualável como música, impressionando até mesmo todos que acompanham o RAP desde seus primórdios. Kendrick tem muito ainda a mostrar, mas como ele mesmo disse, dos rappers ainda vivos vindo da West Coast, somente o Snopp pode ser comparado com ele.
Caso você tenha como, aconselho a investir e baixar o álbum completo no iTunes, sendo parte da história do RAP, e incentivando um dos momentos mais clássicos da história da música, mas em todo o caso, aqui está o álbum:
Dr. Dre falando sobre o álbum “To Pimp a Butterfly”:
Kendrick Lamar, comentando partes de entrevistas da lenda Tupac:
Ronald Rios faz sua análise sobre o álbum “To Pimp a Butterfly”: