quinta-feira, novembro 21, 2024

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Taz Mureb lança disco “Queen Of Kings” e fala sobre sua carreira

Taz Mureb está envolvida no projeto “Rap de Água Salgada”, uma trilogia musical. O primeiro episódio chama-se “Queen Of Kings”, disco que traz toda experiência da artista num período em que o rap, a política e suas atividades de militante se fizeram presente. O projeto tem as participações de Matheus MT, Vivy Marley, Forage Foragido e Nina Black. A produção geral é de Forage SSM.

O ZonaSuburbana trocou uma ideia com Taz Mureb. A artista falou sobre política, sua candidatura pelo PDT e, é claro, do seu novo disco. Quem não conhece a artista terá uma grande oportunidade de saber detalhes muito além de seu rap. Leia a entrevista e ouça “Queen Of Kings”.

ZS: Os bastidores da produção do CD “Queen Of Kings”, são carregados de histórias de protestos, tretas e superação. Fale um pouco sobre o apoio que teve e se rolou algum momento em que desacreditaram da sua correria.
Taz Mureb: Sou uma pessoa que acredita no poder do coletivo, mas eu acredito muito na minha força individual também. Quando eu fui cobrar o que era meu por direito na Prefeitura, fui sozinha, os únicos que abraçaram a causa foi a galera do movimento de arte urbana: o público que me acompanha por causa da roda cultural de Cabo Frio, os hippies e os estudantes secundaristas, a galera do rap e os artesãos.

Então eu já tenho um pensamento que meu público alvo é esse. Meu público alvo são pessoas que passam mais tempo na rua do que em casa, por opção ou por profissão. Muita gente desmerece meu corre, muita mesmo, principalmente pessoas do rap, o que é mais triste. Algumas pessoas tentam diminuir meu corre por eu ser ativista, acham que sou polêmica à toa, que crio confusão. Na verdade, acho que isso é hip hop de verdade, isso é o resgate da consciência do rap como arma de luta. Se eu não puder lutar para a construção de um novo pensamento social, a minha arte não tem porque existir.

Até hoje, mesmo eu estando no rap há quase 10 anos, tem pessoas que julgam minhas atitudes, o que e faço ou o que eu deixo de fazer, tem uma galera grande que fala mal de mim pelos cantos, sabe por que? Porque eu sou MULHER, isso incomoda. Uma mulher que fala e faz o que eles não tem coragem de fazer. Porque homem quando fala mal de homem, é cobrado na rua, a parada não fica por isso mesmo. Com mulher não…eles sabem que vai passar batido.

Esse CD veio pra calar um monte de boca maldosa e mostrar pra cena que sim: o rap essência está mais vivo do que nunca! Que o rap é música, que o rap é arte, que o rap mesmo sendo consciente pode ser leve, good vibes e bem dançante até.

Assista ao clipe da música “Hino Nacional da Maconha”:

ZS: Rap, política, feminismo, legalização da maconha, cenas de amor. Além de você, seu disco representa muitas lutas das minas dentro do hip hop. Acha que ainda existem muitas barreiras a serem quebradas pelas dentro da cena?
Taz Mureb: Sim. É um Muro de Berlim por dia que a gente precisa derrubar. E nós estamos fazendo isso. Cai um Muro de Berlim toda vez que uma mina pega o microfone. O problema é que os homens ainda insistem que as pautas das mulheres são menos importantes. Mas a gente não quer nem saber. A gente não precisa mais de opinião, o rap feminino no Brasil está num patamar que a gente não precisa mais da opinião de macho recalcado não. Porque as minas estão chegando em lugares que nenhum cara chega. Em ambientes institucionais, políticos e contribuindo não só para a história da música brasileira, mas para a história dos movimentos sociais desse país. A gente veio com pé na porta.

E ninguém pode negar a grande improtância da participação feminina no rap pra nós chegarmos hoje onde estamos. Foi o fato de ter mulheres no rap, que cada vez trouxe mais meninas pros movimentos e pros shows. Tendo mais mulheres ativas, o rap começou a ocupar outros lugares, foi caindo os tabus a respeito de o público de rap ser composto só de marginal, só de bandido, as meninas fizeram o rap florescer e isso precisa ser reconhecido.

Taz novo disco 2016

ZS: Você relatou um caso de violência contra um fã de rap por ele ser homossexual e estar com seu companheiro num show. O rap ainda está na idade das trevas quando o assunto é combate à homofobia?
Taz Mureb: Eu acho que o rap ainda está nas trevas em diversos assuntos. Na verdade não é o rap que está nas trevas, são os grupos que chegaram no “mainstream” que não conseguem passar a visão correta do que o rap é.  E por isso que tem essas tretas, porque a cena rap (que é muito maior do que a meia dúzia de grupo que conseguiu repercussão nacional) não se sente representada pelos grupos que chegaram. Não é questão de ser branco ou preto, ou ser ou não playboy. É a questão de passar a abordagem social da forma correta, e isso a maioria dos grupos não faz.

Enquanto a sociedade está cada vez mais esclarecida em temas como homofobia, direitos da mulher, empoderamento do povo negro entre outras pautas, o rap ainda continua fazendo questão de exaltar em várias músicas pensamentos totalmente ultrapassados e que fazem a sociedade questionar os seus próprios paradigmas.

Não tem cabimento em pleno século 21 o rap virar um instrumento de opressão. Nós somos a libertação. Nós somos a ruptura do sistema falido. Qualquer rap que seja usado como forma de opressão ou de repetição de discurso de submissão de classe, de gênero ou orientação sexual está sendo só mais uma marionete defendendo tudo que a gente condena.

ZS: Você está se envolvendo de forma efetiva no quadro político de sua região? Está envolvida com algum partido político. Quais suas propostas?
Taz Mureb: Vou ser candidata às eleições esse ano pelo PDT, que tem o Projeto de Educação Integral, com oficinas de artes e esportes, e essa é uma ideia que eu acredito muito. Sempre fui envolvida com política, a minha família é participativa politicamente desde sempre e eu, já muito pequena, me vi no meio de várias manifestações, como no Impeachment de Collor entre outras ações que eles organizavam na cidade.

Quando entrei para o rap, comecei a frequentar comunidades e áreas de risco, ser participativa politicamente foi uma necessidade. Sou uma cidadã consciente dos meus direitos, sou uma pessoa extremamente patriota. E acho que é obrigação de todo brasileiro lutar pelas conquistas sociais e democráticas do nosso país.

Estive nas grandes manifestações de 2013, com ações específicas e fugi de muita bomba e tiro de borracha. Fiz a Roda Cultural do Museu do Índio, com os indígenas que foram removidos da Aldeia Maracanã, acho que a arte é o principal instrumento de luta e transformação social, e que nós precisamos usar todos os nossos recursos.

Hoje nós vivemos um momento político importante no país, um momento de despertar de consciência, e a gente precisa ocupar os espaços. Todos os espaços. Desde a pracinha da minha cidade, até o Ministério da Cultura, desde a Câmara de Vereadores ao Canecão, de escolas a ALERJ, entende? Se a gente não ocupar, alguém vai ocupar. A sociedade precisa entender a política como um instrumento de transformação, as pessoas tem que perder esse estigma alienante de achar que política é uma coisa ruim e de não querer se envolver. Tudo no mundo é política, desde você desenrolar com seu pai pra voltar uma hora mais tarde até você pedir um desconto na padaria. Isso é política. Todas as decisões são políticas e você decidir não participar da política é uma decisão política também.

Se as pessoas boas e engajadas não ocuparem os espaços certos nós sempre seremos governados pelos ignorantes, pelos corruptos, pelos hipócritas. A sociedade precisa de representantes que de fato sejam a sua voz nos órgãos públicos, e hoje represento um segmento muito grande que ainda não tem voz nos poderes. Então meu primeiro objetivo é ser uma voz de minorias que ainda não se sentem representadas nas câmaras, prefeituras e no senado federal.

Meu segundo objetivo é o de fiscalização. O papel de um vereador é cuidar para que o dinheiro público seja usado da forma correta, e hoje vivo em uma cidade que tem uma das administrações mais corruptas do mundo. Lava Jato aqui é fichinha…é um propinoduto de bilhões de reais em royalties de petróleo foram desviados nos últimos vinte anos.

Quero saber cadê esse dinheiro. Vou mover mundos e fundos pra que cada real que foi desviado seja devolvido e que cada um dos envolvidos seja preso. As minhas propostas são mais voltadas para a Cultura e o Meio Ambiente, que são as áreas que eu tenho um maior expertise, além de políticas para as minorias. Não vou chegar prometendo mundos e fundos e nem inventando soluções mirabolantes, existem diversas leis que não são cumpridas a respeito da Legislação Ambiental da Cidade e vou exigir o cumprimento correto de cada uma delas.

Nosso objetivo é resgatar a identidade local através da Cultura, da Ocupação do Espaço Público, de projetos de capacitação para o Jovem, de politicas em defesa da mulher e da comunidade LGBT, incentivar a ocupação das praças com prática de esportes. São coisas muito simples de serem feitas e que não dispendem gastos financeiros muito grandes.

É questão de vontade política, de compromisso com a sociedade e de botar a mão na massa mesmo. Trabalho com rap, estou no olho do furacão, nas comunidades e favelas. Essa é a grande diferença da política que acredito. Acredito numa política de participação, que é feita na RUA: com diálogo, com integração. Nunca vou ficar sentada o dia todo numa mesa igual a uma burocrata.

Continuo sendo rap, até o fim. Meu envolvimento com a política é voluntário e é apenas por acreditar que eu posso fazer muito melhor que esses vampiros ultrapassados que só querem sugar as riquezas do povo. Poder para o povo. Essa é a minha cara.

Taz novo disco 2016 (2)

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