Depois do “Amostra” lançado em 2008, “Eu Gosto” (ouça aqui) em 2015 e da mixtape “Camelando e Sampleando” (ouça aqui) de 2016, Raphão Alaafin apresenta seu novo trabalho, chamado “A Gosto”.
Uma década depois do seu primeiro álbum, o artista se diz mais maduro musicalmente e acredita que esse é seu melhor trabalho até aqui. Com uma produção baseada na época que mais agrada o Alaafin, a Golden Era, ele vem expressando nas letras a angústia de “estourar”, que é muito mais das pessoas próximas do que dele próprio. Um nascimento pra cena de uma forma ampla que sempre se adia, agosto é o mês que antecede seu nascimento, então ele mostra isso como se fosse um passo pra nascer, mas fica em um looping infinito nesse adiamento “preso em um compasso de 16, em calendários que só tem 1 mês, ciclos infinitos de uma rima só, acordes de uma nota só por vês, estarei mais velho e não nascerei, Messias sem um Natal serei…”
Contém 8 faixas e as participações de Joy Sales, Jhany Oliveira, Negrifero, Lay, Dj Negro Rico, Eduardo Brecho, Thiago Sonho e Rodrigues Boma.
Após dois anos sem um lançamento fechado, Raphão Alaafin volta à cena, com um disco novo exatamente 10 anos depois de seu primeiro lançamento. Agosto de 2018 marca o lançamento de “A Gosto”, disco feito em parceria com a Rec Livre.
Aproveitamos a oportunidade e conversamos com o artista, onde falou sobre o projeto, os 10 anos de carreia e também algumas novidades.
ZS: Raphão, existem diversas formas de se envolver em algo, como você entrou no rap?
Gostaria de poder dizer que meu pai é um pianista que tocava em bares de SP pra ganhar a vida, e a música foi uma coisa que aconteceu natural pra mim, mas na verdade eu busquei a música a todo momomento, pra conseguir viver socialmente, me expressar, me sentir existindo, conseguir interferir na minha propria vida, liga isso? Antes do Rap eu parecia um telespectador de mim mesmo, um coadjuvante da minha existencia, hoje sou protagonista. Mas foi dificil, pois eu achava que precisava de um aval, de uma permissão (o que não é uma mentira) mas minha vontade e minha persistência foram meu passaporte. Eu não tive POSSES no meu bairro, nem oficinas de MC, nem batalhas pra me mostrar caminho, eu tive que ir sozinho, do meu jeito.
ZS: O nome Raphão Alaafin é forte né mano? De onde surgiu e o que representa?
A incorporação do Alaafin no meu nome foi um batismo, representa uma passagem de portal, quem me batizou foi a Naiane. Nós discutíamos sobre resgatar meu nome africano e nessa época ela estava estudando Ciências Sociais na UEL, em Londrina, e também fazia parte do Núcleo de Estudos Afro-asiático, onde em uma dessas experiências ela passou a conhecer alguns reinados da Nigéria, e ela viu que era real, havia reis lá parecidos com a gente, e nas nossas resenhas eu sempre falava que era da Nigéria, que era a parte da afirca mais parecida com minha famílialia, e Alaafin sendo um Rei de Oyo, casou com meu desejo de ser eternizado a partir da arte, pois Alaafin é responsavel pela acestralidade e a ligação dos ancestrais ao mundo atual.
ZS: De tantos projetos, tantos corres, como você se define nessa atual fase de sua carreira?
O meu pai sempre disse pra me imaginar sempre 10 anos pra frente e isso nunca fez muito sentido, mas hoje faz. Estou na minha melhor fase profissionalmente falando. Quando lancei o “Amostra” em agosto de 2008, em cima do palco eu pensei em como eu queria estar dali a 10 anos, e é exatamente assim como estou hoje: estabilizado, na minha casa, com minha familia, respeitado no Hip Hop, em ativiadade, trabalhando, lançando disco, produzindo, e agora estou mais preparado pra essa nova fase que nunca me esforcei de verdade pra entrar, mas que vocês vão poder acompanhar a partir de “A Gosto”. E eu estou iniciando estes proximos 10 anos, que com certeza será da forma que eu vou imaginar em cima do palco, dia 05 de outubro de 2018, dia do lançamento desse álbum.
ZS: Qual a expectativa pra colocar um trampo novo na rua? Conta um pouco como esse disco chega.
Complementando um pouco da resposta anterior, na “Talento é Trabalho” eu digo que estou a 30% da minha capacidade total, hoje estou nos 35%, tudo isso que vocês me veem fazendo, são apenas uma pequena parte minha, se isso é bom ou ruim, não sei rs. Acho que pensando futuramente é bom, sempre estive correndo com 3 sacos de cimento nas costas, mas meu problema é que eu não paro.
A expectativa é sempre foda, lançar um trabalho é sempre incrível pra um artista, é o momento que você tenta negar que é só ego, que você é algo maior que isso, que você é arte… Besteira! É tudo ego, mas nosso papel é deixar isso bonito, ouvivel e batendo legal. Conseguimos, o Sem é um engenhiro fantástico que tive a honra de ficar próximo nesse disco. Produzimos eu, Boma e o Sem em 60 dias muito intensos dentro dos meus 35%. A roupagem é a que mais combinou com o tema do disco, meio final dos anos 90 iniciando aquela Golden Era de 2000. Se eu estivesse preso eternamente num período da história (ideia do disco) eu gostaria de ficar ouvindo esse tipo de som, num ambiente do Sintonia às 3h da manhã…
ZS: Como avalia o rap hoje? Como forma de mudar de vida (profissionalmente falando).
Rap hoje tá livre e maduro, uma combinação foda, eu só vejo coisas positivas, até nas fantasiadas de negativa, acho que tem um espaço fantástico que o Hip Hop está ocupando e estou feliz por estar com pessoas que estão enxergando isso também. Agora falando de vida, o Rap sempre vai mudar vidas, de quem estiver mais precisando, não era apenas feijão e arroz, eu precisava de algo que me deixasse de pé de verdade, liga? o Hip Hop me deu isso, e meu objetivo é dar isso a maior quantidade de pessoas que eu conseguir também.
ZS: Quais sonhos o Raphão ainda quer realizar na sua caminhada na música?
Sonho, parece uma palavra meio inalcançável, mas meus sonhos estão bem próximos. Os 10 anos seguintes após “A Gosto”, e são bem simples de realizar: ter meu espaço da Ponarru organizado, com meu estúdio, minha horta, os quadros dos meus álbuns na parede, receber meus amigos, fazer beat com o Boma, ouvir uns discos ruins e baratos de vinil que comprei num sebo em Osasco, e fazer música usando 100% da minha capacidade humana. Minha família e meus amigos bem, maconha a vontade, Santa Pelada toda quarta-feira e 12 tênis brancos por ano na caixa, cano alto, 44, coisa linda, e que daqui a 10 anos o ZonaSuburbana me entreviste novamente, lançando um novo álbum foda. Só isso mesmo. #TaFacil #Ponarru!!!