O grupo Mental Abstrato lança seu mais novo álbum, intitulado “UZOMA”.
No anos 1990 o grupo Gang Starr com rapper Guru e DJ Premier foram um dos primeiros artistas do rap a misturar o Hip-Hop com Jazz, grupos como Dilated People, Digable Planets, Arrested Development, Pharcyde também percorreram este caminho, o dj e produtor J. Dilla, morto precocemente aos 32 anos em 2006, foi um dos grandes entusiastas dessa mistura, o produtor também foi um dos pioneiros a usar bossa nova em suas produções – a clássica “Running”, do Pharcyde tem como sample a linda “Saudade vem correndo”, de Stan Getz e Luiz Bonfá.
Aqui no Brasil inspirados por estes artistas gringos surge uma cena com o rótulo de “rap underground”, a molecada fazia seus raps utilizando o Jazz e a música brasileira como base para os instrumentais, num momento onde os computadores e a internet chegava nas camadas mais baixas brasileiras e fomentava a cena de uma maneira totalmente independente e alternativa.
O Mental Abstrato é um grupo formado por Omig One, percussão e produção, Calmão Tranquis, produção e MPC e Guimas Bass, no contrabaixo, vindos da zona leste, tem J. Dilla como grande influência e inspiração, nascido no começo dos anos 2000, com a ideia de produzir seu som com as novas tecnologias que surgiram na época, o “fruit loops”, por exemplo, misturando os gêneros Hip-Hop e Jazz. Em 2010 lançam somente no Japão o disco “Pure Essence”, bem aceito no país asiático o disco era menos orgânico e mais trabalhado com as produções de samples: “Antigamente só trabalhávamos em cima de samples de músicas antigas em sequenciadores virtuais dentro de nossas casas, com raras participações de músicos instrumentista”, esclarece Fagner Calmão.
A partir daí o grupo entra num grande laboratório fazendo apresentações com vários formatos diferentes e um som mais orgânico e elaborado, como afirma Omig One. “Foram vários anos de experimentações desde o início do projeto, do laboratório Home Studio, no quarto e depois levado para a rua em diversos formatos a qual viemos e encontrando e realizando os shows até hoje”.
“Aqui se Inicia um novo ato pra gente”, assim Omig One define o novo momento do grupo com o lançamento no dia 6 de setembro, o disco “Uzoma”, nome que vem da língua africana Igbo e significa “o bom caminho a ser percorrido”, o trabalho tem a produção do próprio trio e coprodução, composição e direção de arranjos de Marcelo Monteiro, participações especiais da cantora Claudya, do trombonista Bocato e nomes como Rodrigo Brandão, Guizado, Gil Duarte, Erica Dee, rapper do Canadá, e Ozay Moore, dos Estados Unidos. “UZOMA” foi gravado no Red Bull Music Studios, em São Paulo, são 12 faixas em que o Rap e o Jazz se misturam novamente, porém com mais elementos nessa experimentação sonora, há o samba, o “afrobeat” e um diálogo maior com ritmos africanos. “O enriquecimento das composições com arranjos muito mais elaborados e proporções de elementos e timbres, acho que é o que mais marca neste novo momento do projeto graças também aos grandes instrumentistas que nos acompanham e fazem parte da família Mental Abstrato”, afirma Omig One.
O tempo, a sintonia e o fato de acreditarem no que estavam fazendo foram os ingredientes necessários para a busca de aperfeiçoamento do som e do formato do grupo. “Três fatores foram muito importantes do início até hoje, que são a afinidade musical, sintonia e energia. Prezamos muito para que todos os envolvidos no projeto estejam nessa conexão e que as coisas fluem naturalmente, com o melhor que cada um pode contribuir de si em cada vivência sonoro, mas com total consciência do que queremos apresentar e onde queremos chegar”, diz Omig One.
A longo dessa caminhada e fazendo uma mistura que já foi bastante explorada o grupo conseguiu criar um estilo próprio com suas experimentações e fusões. Os shows constantes em vários circuitos da capital paulista e pelo Brasil, com um público atento à a essa sonoridade de misturas tem mantido o trio na ativa: “A nossa versatilidade em conseguir ser contemporâneo, agregando várias referências que nos representam, acho que é primordial para conseguir se manter, mas digo ainda não está sendo fácil conseguir sobreviver no Brasil fazendo o tipo de som que fazemos, assim como é duro tocar em frente de qualquer tipo de arte conceitual”.
Confira o disco “UZOMA” no canal da banda no YouTube: