quinta-feira, novembro 21, 2024

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ZENtrevista: O rap gangsta e original de Melk

Já faz tempo tinha a ideia de pegar uma visão com o Melk e registrar. A parada se tornou mais difícil depois de uns problemas recentes que o MC teve com a justiça. Tudo se resolveu e agora o rap nacional volta a ter na rua um dos MC’s mais respeitados da cena do Sul, representante de Londrina/PR, e membro da formidável junção da Família IML.

Assista, abaixo o clipe de “Caixinha”, lançado em 2013:

Com vários sons e diversas participações, Melk consolidou um estilo único de rimas gangsta com muita profundidade poética e uma dicção bastante original, isso fica claro na construção dos dois discos da série “Radiografia Mental”, e promete não ficar por menos na terceira parte da saga, que está em fase de produção pelo artista.

Ouça “Radiografia Mental part 2”, disco do rapper, de 2014:

ZS – Você ficou um tempo afastado da cena, devido a problemas com a justiça. Como foi essa fita mano?
Fiquei preso em Cornelio oito meses, fui preso no 157. Fiz Rap durante todo tempo lá, paguei a pena e estou respondendo em liberdade.

ZS – Você tá trampando no Radiografia Mental parte 3, os trabalhos anteriores ficaram bastante marcados pela sua identidade e originalidade, o que fez com que você ganhasse notoriedade em várias regiões do Brasil, especialmente depois da pesadíssima “poção da vida”, com o Flavio Dark. Qual vai ser a pegada desse material novo?
O novo trabalho vem dando seguimento nas rimas estranhas do “Radiografia Mental” 1 e 2, vai ser um álbum de boombap com participações de Londrina, SP e Cwb, outros trabalhos no seguimento da poção da vida, também serão lançados no intervalo dos trabalhos do álbum.

Melk

ZS – Muito tem se falado sobre 2017 ser o “ano lírico”, onde as boas composições e a subjetividade dos artistas estão tornando a cena um pouco mais orgânica. O que você acha dessa visão? O Rap realmente estava carente de boas composições?
Acho que sempre rolou as boas letras desde o início. No decorrer, outras vertentes do rap foram tomando espaço, visando mais no tema o rolê, a legalização, e outras conquistas, mas acho da hora o rap voltar ao ponto inicial com uma nova cara. A lírica sempre vai prevalecer.

ZS – Talvez a característica mais marcante no seu estilo, seja a dicção única com que você rima. Essa dicção, aliada a uma pegada de composição bastante complexa, te torna um artista bastante original. Conta pra nós um pouco mais sobre esse estilo e influências.
No começo me encanava com essas fitas, quando via alguma critica, o DJ Samu que abriu minha mente, mostrando ser um estilo próprio que tenho, acho que esse é o meu caminho. Vai ter quem critique e quem vai abraçar com as duas.

ZS – Vários MCs passaram por experiências no sistema penal, tanto na gringa quanto no Brasil. Essa experiência costuma influenciar bastante as composições e as visões dos artistas reclusos. Como está sendo pra você, o processo criativo depois de passar por uma fita dessas? Tem como tirar pontos positivos de um sistema de opressão absurdo, como é o sistema penal no Brasil?
Porra me ajudou de mais no crescimento, me fez ver o mundo novamente, porque a gente se acostuma vivendo na gosolândia e esquece que a opressão existe, esquece que do outro lado tem gente sofrendo, mas lutando pra aqui na rua ter uma disciplina da hora, se a policia tá matando menos, se os noiados não estão mais roubando a Vila, é a luta dos guerreiros lá na cadeia, eles sofrem na pele e esta lá acordando batendo de frente com o sistema dia apos dia, isso tudo doeu em mim e coloquei nas letras, coloquei na mente, e vou levar pra sempre, espero a liberdade do meu irmão Flavio Dark logo, estará aqui cantando a realidade das grades do outro lado do mundo.

ZS – Conta um pouco sobre essa tattoo avançadíssima na sua testa…
Eu e meus amigos gostamos muito de Dragonball Z, um dia nos tava tirando uma brisa em uma praça e um parceiro falou que seria da hora eu ter um “M” igual do Majin Boo, dai gostei da ideia. Quando recebi um convite pra fazer uma tattoo, lembrei disso e joguei ela, as pessoas no ônibus na rua ficam chocadas, retorno com um sorriso, ou as vezes com um deboche kkkk.

Melk e sua tatuagem “M” do Majin Boo

ZS – O que você tem escutado de som ultimamente mano? Tem algo que esta te chamando a atenção?
Ando escutando as mesmas coisas…Wu Tang, DJ Premier, Moob Deep, Sabotage, Família IML e várias das antigas do rap nacional.

ZS – O Rap tem passado por um período meio turbulento, com bastante disputa entre os MCs e rivalidade entre regiões e grupos, especialmente depois do trampo dos manos do nordeste, criticando o eixo Rio/Sampa. Qual tua opinião sobre essas rivalidades?
A minha opinião sobre as tretas, é que o rap no Brasil já passou por isso em 2007, agora está passando novamente, isso é normal de se acontecer, até em nossa família temos divisões…As vezes seu irmão quer disputar com você pra ser um filho melhor, no seu trabalho alguém vai querer ser o melhor empregado, outro vai querer ser melhor Deus pra um mesmo Universo, e no rap não seria diferente, então que vença o melhor e o mais zika da porra toda.

ZS – Há uma polêmica no ar, sobre o pouco retorno financeiro numa perspectiva de mercado, em relação aos negros no Rap nacional. Há quem diga que o rap “branqueou” e enxergue isso como algo ruim. Qual tua visão como MC negro, sobre esse assunto?
A música negra é linda de se ouvir né, o negro tem aquele veludo na voz tem o ritmo redondo, o sentimento completo, não sei como explicar, não tem como falar também que os brancos não fazem coisas boas, temos como bons exemplos o Eminem, o Alchemist, DJ Samu, Mano Flér, entre outros.

ZS – No momento, o gênero Trap está em bastante evidência no país. Você curte esse gênero? Já pensou em gravar sons com essa pegada?
Já gravei uns traps, gosto pra caramba, está rolando muito no Brasil e acho que é um bom caminho, tá sendo um bom caminho pro comércio do rap brasileiro.

ZS – Manda um salve pra rapaziada !
Um salve pra minha Família IML, pra favela da Uni, pra comarca de Cornelio Procopio, pra rapa de Goiânia, SP, Cambé, pra RDR de Londrina, Uzi e pra todos que se foram e represento a UDV, estamos juntos eternamente.

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